O Hospital e Maternidade José Martiniano de Alencar (HMJMA), unidade da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), conta agora com um Ambulatório de Estomaterapia. A prática é uma área da enfermagem que busca prevenir a perda da integridade da pele em áreas do corpo que possuem estomias, feridas agudas e crônicas, fístulas, além de incontinência anal e urinária. Para os pacientes que tratam lesões, o serviço tem contribuído para diminuir o tempo de internação, acelerar a cicatrização, prevenir infecções e evitar desenlaces mais drásticos, como a perda de membros.
A enfermeira e estomaterapeuta Yara Lanne Santiago, integrante da equipe que atua no ambulatório, explica que se começou a observar que pacientes que tratavam lesões na unidade tinham de prolongar o período de internação devido à troca de curativos. “A gente foi percebendo que alguns pacientes estavam estendendo o tempo de internação pela presença de algum tipo de lesão mais crônica, mais complicada, que demandava um tratamento especializado mais prolongado. Então, a gente viu que desospitalizar esse paciente e trazê-lo para fazer o curativo no ambulatório tanto favorecia a rotatividade nos leitos e diminuía os custos com a internação, com todo o trabalho da equipe e insumos, quanto favorecia a qualidade de vida do paciente, que podia retornar para seu ambiente domiciliar”, explica Santiago.
Equipe de Enfermagem do Ambulatório de Estomaterapia do HMJMA
A ideia é garantir não só a continuidade como também a qualidade do tratamento. Pelo fato de essas coberturas serem mais estáveis, seguras e efetivas, os pacientes que são integrados ao Ambulatório de Estomaterapia para dar continuidade ao tratamento de lesões retornam ao Hospital apenas duas vezes por semana para fazer o procedimento de troca do curativo, que é realizado por equipe especializada responsável por manipular de forma adequada, limpar a área tratada e trocar o material, além de observar o progresso da cicatrização da lesão, fazendo o controle de secreções. Isso evita, por exemplo, que os pacientes precisem recorrer a trocas caseiras de curativo por meio de ajuda não especializada e acabem ficando expostos a manipulações inadequadas, prejudicando a terapia.
Um dos pacientes atendidos no ambulatório, o administrador e técnico em mecânica Renato Campos de Alencar, 68, conta que esteve internado no Hospital Martiniano de agosto a outubro de 2023, e que receber alta médica para dar continuidade ao tratamento de uma lesão na perna por meio da estomaterapia contribuiu como um estímulo para prosseguir com os procedimentos médicos. Ele conta que foi a primeira vez que se utilizou de um hospital público e que sua visão do serviço mudou. “Eu pensava que hospital público era uma coisa. Eu não tinha a real dimensão da situação de um hospital público. No período de internação, não faltou nada para mim. Foi de muita humanidade, por parte de toda a equipe. Me tirou de uma situação que não era boa”, conta Alencar.
“Mas eu ficava pensando no mundo lá fora. Psicologicamente, fiquei muito sensível”, pondera. “Logo que eu saí, parece que houve um avanço. Melhorei demais”, relembra o paciente. “Receber alta e ficar vindo duas vezes por semana fazer os curativos foi um momento de mudança, porque eu voltei a conviver com a minha família, a interagir. Foi uma luz que foi dada, uma injeção de ânimo”, narra Alencar, que mora com a esposa, no bairro Benfica, em Fortaleza, e tem três filhas. Com esses meses de tratamento, Alencar afirma que já caminha normalmente e não sente mais nenhuma dor. A expectativa é de que ele conclua a terapia em dois meses.
Já o representante de vendas Francisco Santhiago Castro, 39, conta que chegou ao Hospital Martiniano em agosto do ano passado com uma infecção no pé cuja gravidade dava sinais da necessidade de amputação do membro, segundo o diagnóstico médico que lhe foi passado, à época. O fato de sofrer de diabetes, uma síndrome metabólica que reflete na resposta do organismo, agravou o caso. A internação para tratar da infecção e a continuidade do tratamento por meio de estomaterapia evitaram maiores danos e Santhiago já caminha normalmente. “Tive apenas de amputar o dedinho, porque já estava perdido quando cheguei, por causa da infecção”, afirma Castro.
Tratamento evitou que Santhiago Castro sofresse amputação de membro
O pescador Antônio Edeísio dos Santos, 50, natural e morador de Beberibe, também sofreu dos reflexos da diabetes, uma vez que machucou o pé sem dar-se conta, por causa de perda de sensibilidade das extremidades própria da síndrome que acomete algumas pessoas. Quem percebeu a infecção no membro foi uma cunhada sua, e logo buscou ajuda médica. Santos esteve internado de dezembro de 2023 a fevereiro de 2024 no hospital e agora volta toda semana para realizar os procedimentos de estomaterapia. “Aqui eu fui bem cuidado, tanto pelos médicos quanto pelas enfermeiras, fui bem tratado mesmo. Agora eu venho toda semana trocar o curativo. As enfermeiras são muito gentis, fazem o curativo e eu volto pra casa”, conta.
Paciente Antônio Edeísio dos Santos com acompanhante e equipe do HMJMA
O serviço de estomaterapia no HMJMA começou a ser realizado pontualmente, a partir de outubro do ano passado, mas foi instituído formalmente em dezembro de 2023, registrando a primeira conclusão de tratamento no final de janeiro deste ano. Para incentivar os pacientes, o Ambulatório de Estomaterapia entrega um Certificado de Lesão Cicatrizada a cada um que concluir o tratamento. É uma maneira de reconhecer o comprometimento e os esforços, que devem vir não apenas da equipe médica e assistencial, mas também do próprio paciente e seus familiares e acompanhantes na realização adequada de todos os procedimentos para a cura.
Como reconhecimento, após conclusão do tratamento, pacientes recebem do hospital um Certificado de Lesão Cicatrizada
Segundo a diretora-geral do HMJMA, Silvana Furtado, o novo serviço na unidade beneficia tanto o equipamento hospitalar, que pode garantir uma maior rotatividade nos leitos, atendendo e tratando mais pacientes, quanto os próprios usuários da Saúde, que têm acesso a um tratamento de alta efetividade, mantendo a qualidade de vida. “É uma maneira de acompanhar o paciente até a conclusão do tratamento, com uma tecnologia altamente eficiente, e dar a oportunidade para que mais pessoas possam ocupar os leitos do hospital, ampliando o acesso à Saúde a todos”, conclui a gestora.
Marcela Belchior - Ascom HMJMA
