A Caminhada da Seca não é apenas para relembrar um passado doloroso, mas também um chamado à ação no presente e para o futuro. Com este tema, aconteceu na manhã deste domingo, 12, a 41ª Caminhada da Seca, no município de Senador Pompeu, no Sertão Central cearense. A romaria, que completou 41 anos de existência é um evento religioso, histórico e cultural, que acontece no município, desde o ano de 1982, para lembrar os flagelados da seca que morreram no campo de concentração de 1932, na barragem do Patu.
O campo de concentração de Senador Pompeu utilizou na época as instalações da companhia inglesa Norton Griffiths & Company – responsável pela construção do referido açude.
Após alguns anos do triste episódio onde milhares de famílias foram martirizados no campo de concentração de 1932, na barragem do Patu, o padre italiano Albino Donati, idealizou abrir as portas da igreja em 1982 quando iniciou-se a 1ª Caminhada da Seca e atualmente é a principal expressão religiosa da comunidade paroquial de Nossa Senhora das Dores, que é ligada à Diocese de Iguatu.
Em meio ao percurso, em um trecho de 3km até chegar ao cemitério da barragem do Patu, idosos, jovens e crianças seguem pela estrada de terra, alguns descalços, outros pagando promessas logo após deixar a igreja matriz, saindo em caminhada às 4h30 da manhã até chegar ao cemitério da barragem do Patu. De acordo com os organizadores, a peregrinação tem como objetivo manter viva a memória de todos os sertanejos e sertanejas que sofreram e perderam a vida nos campos de concentração da seca de 1932, bem como, reivindicar a dignidade da vida, com trabalho e pão na mesa dos pobres, de modo que este episódio nunca mais venha fazer parte na vida da estória da nossa gente.
Ao chegar no cemitério, foi celebrada uma missa solene presidida pelo bispo Diocesano Dom Geral do Freire e concelebrada pelos padres Gil e Bruno em louvor às santas almas da barragem do Patu. “Essa é uma tradição na nossa realidade de igreja diocesana: celebrar esse momento no qual tantos irmãos que perderam suas vidas fugindo da seca e no local onde deviam ser cuidados, amparados, respeitados, tiveram essa história trágica que hoje nós queremos fazer essa memória, resgatar isso tudo para que assim a gente possa se engajar melhor na nossa vida de igreja, valorizando a vida, a dignidade da vida.”, disse o bispo diocesano dom Geraldo Freire.
Segundo o advogado, escritor e historiador Valdecy Alves, não é certo o número de vítimas noticiado ao longo dos tempos. São divulgadas pouco mais de 1.600 mortes naquele tempo em Senador Pompeu, mas estima-se que cheguem aos 10 mil óbitos.
De acordo com o relato de algumas pessoas que estavam presentes na ocasião relataram que é possível sentir na alma o sofrimento daquelas famílias, que chegaram no campo de concentração, fugindo de suas cidades de origem em busca de sobrevivência, de trabalhar, para alimentar suas famílias, porém foram brutalmente martirizados em 1932. Já se passaram 90 anos e há 41 anos vem sendo realizada essa Caminhada da Seca em homenagem as almas santas da barragem do Patu.
O Sítio Histórico do Patu é tombado como Patrimônio Cultural do Estado do Ceará. Senador Pompeu se mantém como o único município do Ceará a preservar a memória do campo de concentração da seca de 1932, com seu patrimônio material, imaterial e paisagístico. Na localidade, permanecem conservados alguns casarões que serviam de abrigos para os chefes e feitores das obras da barragem do Patu, enquanto os retirantes moravam em casas construídas com madeiras e folhas de árvores, sob o sol escaldante da seca, escuridão durante a noite e além da fome e sede, foram vítimas de doenças.
Anualmente no período da Caminhada da Seca a cidade recebe a visita de milhares de pessoas para lembrar e conhecer a estória dos flagelados. No cemitério do Patu, as pessoas acendem velas, oferta pão e água para as vítimas que morreram de fome e sede e foram enterradas em valas comum.
O abrigo aos flagelados do Patu, em Senador Pompeu no Ceará, de acordo com alguns historiadores, tinha como o intuito barrar a caminhada dos flagelados até a capital cearense, para evitar o agravamento das precárias condições econômicas e sanitárias da capital Fortaleza.
Como os flagelados andavam em caminhada pelas estradas do Ceará em busca de sobrevivência, há 41 anos assim acontece na cidade Senador Pompeu a Caminhada da Seca, liderada pela comunidade paroquial de Nossa Senhora das Dores com a intenção de não somente relembrar um passado triste e sombrio, no entanto, despertar a população em geral para um chamado à ação no presente e para o futuro.
Lucinete Alves.