Estamos no ano de 1971, últimos dias da Semana Santa. Padre Landim termina suas orações e pede a graça de ter de volta a imagem de Senhora Sant’Ana, Mãe de Maria e Avó de Jesus, que havia sido roubada por um ladrão de obras sacras.
Sua prece é atendida. No mesmo dia, chega ao governador do Ceará, Cel. César Cals, e ao padre Landim um telegrama urgente do delegado paulista, dr. Amâncio Malheiros, informando: “Com grande alegria, recuperamos a imagem de vossa Santa e prendemos o meliante que a roubou”.
Ao tomar conhecimento, Dom Mauro, primeiro bispo de Iguatu, toma as primeiras providências para a vinda da imagem para Fortaleza.
Mas enquanto Dom Mauro cuida dos preparativos, vamos entender como essa história começou.
Era fim de janeiro de 1971, época da Ditadura Militar. Eis que surge um homem de aproximadamente 30 anos, moreno, com sotaque italiano, dirigindo uma camionete vermelha cujas placas apontavam registro do veículo na cidade paulista de Jundiaí. Ele se chamava Franco Romano, e procurava imagens ou objetos sacros para galvanizar.
A galvanização é um processo de revestimento de um objeto com uma camada de zinco, a fim de protegê-lo da corrosão, e é uma prática comum na Igreja Católica para proteger imagens e objetos de danos causados pelo tempo e pelo ambiente. Afinal de contas, a imagem de Senhora Sant’Ana, feita em madeira, em estilo barroco, era uma testemunha silenciosa de mais de 200 anos de toda a história religiosa de Iguatu. Quando chegou aqui os índios quixelôs ainda habitavam a antiga Missão da Telha.
O processo de galvanização consiste em mergulhar a imagem ou objeto em um banho de zinco fundido. O zinco se deposita sobre a superfície do objeto, formando uma camada protetora que impede a corrosão. Padre Landim sabia que o processo era seguro e eficaz, e não causaria nenhum dano à imagem. Só não sabia que estava lidando com um contrabandista que já havia enganado o Vigário da cidade de Milagres, padre Joaquim Alves. Na sua bagagem havia peças sacras de várias igrejas da região caririense.
Ao conseguir conquistar a confiança de padre Landim, Franco Romano conseguiu pegar a imagem com a desculpa de galvanizar, mas desapareceu com ela.
Nesse momento dava-se início a uma grande caçada, capitaneada pelo bispo diocesano Dom Mauro, em busca de recuperar a bi-secular imagem de Senhora Sant’Ana. Muitos ajudaram, mas Dom Miguel Fenelon Câmara, bispo auxiliar de Fortaleza à época, foi quem denunciou a todos os órgãos competentes e não desistiu de encontrar a imagem.
Naquele tempo, as comunicações eram bem difíceis. O telefone era algo raro, usava-se o rádio amador; e aqui um agradecimento especial ao radioamador Geraldo Sacramento. Tinham as cartas e os telegramas e, foi através do telégrafo, que veio a boa notícia, três meses depois, de que a imagem fora encontrada.
Mas faltava trazê-la de volta e é agora que voltamos ao ponto em que deixamos Dom Mauro preparando tudo. Ficou acertada a vinda da imagem para Fortaleza em 17 de abril. De lá veio de avião para Acopiara e no aeroporto estavam Dom Mauro, o prefeito de Iguatu, Erasmo Rodovalho de Alencar, e o padre Landim que suspirava aliviado e cheio de alegria pela graça alcançada. Era 18 de abril de 1971.
Por volta das 15:30h, sai de Acopiara uma carreata em formato de procissão que reuniu mais de 200 carros que seguiam um carro-andor, um Jeep aberto, rumo à Iguatu. Desde a ponta do Truçu até a Praça Pedro II a multidão aguardava de pé e nas calçadas, a passagem da imagem de Senhora Sant’Ana escoltada pelo prefeito municipal, o delegado Amâncio, de Campinas, São Paulo; e Dom Mauro.
Eram exatamente 18 horas quando a imagem passou pelo meio da multidão nas mãos de padre Landim, visivelmente tocado, em direção ao palanque montado com toda pompa e circunstância para recebê-la. Após os discursos emocionados, lágrimas e muitos cânticos aconteceu o momento mais emocionante: a imagem de Senhora Sant’Ana era coroada com duas novíssimas coroas de ouro puro sobre as cabeças de Sant’Ana e de Maria, Mãe de Jesus!
E assim, em 18 de abril de 1971, terminava a odisseia de ter de volta a “Avó de Todos os Cristãos” à Terra da Água Boa. A história do roubo e da recuperação da imagem de Senhora Sant’Ana de Iguatu é um exemplo de fé, esperança e perseverança. É uma história que mostra que mesmo nos momentos mais difíceis, nunca devemos perder a esperança.
A imagem de Senhora Sant’Ana de Iguatu é um símbolo de fé e devoção para a comunidade de Iguatu. Ela é uma fonte de esperança e conforto para os fiéis, e é um lembrete da importância da fé em tempos difíceis.
Fonte – Departamento Histórico da Diocese de Iguatu
Autor – Luís Sucupira – assessor de Imprensa da Diocese de Iguatu