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Longa-metragem sobre sua vida deve ser lançado ainda em 2024.

Publicada em 31/01/24 às 17:13h - 75 visualizações

Rádio Tribuna de Iguatu


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Longa-metragem sobre sua vida deve ser lançado ainda em 2024.
Longa-metragem sobre sua vida deve ser lançado ainda em 2024.  (Foto: Divulgação)
Aos 16 anos, a jovem Francisca Augusto da Silva foi assassinada pelo seu ex-noivo, o agricultor Francisco Ferreira Barnabé, o “Chico Belo”, com 13 golpes de peixeira. O crime aconteceu na zona rural de Aurora, no Cariri cearense, no dia 9 de fevereiro de 1958. Após quase 66 anos, sua morte é lembrada pelo povo como um martírio. O local onde tombou se tornou alvo de devoção popular. Além de tudo isso, sua história está inspirando um filme, “Uma Voz Chamada Francisca”, que deve ser lançado até o fim deste ano.

O filme, com roteiro de Vaniele Oliveira e dirigido por Lamarck Dias, foi idealizado há alguns anos e, finalmente, já está na fase de gravações, que deve ser concluído até o fim deste mês de janeiro. “É uma ideia antiga, que vem desde que entrevistei a irmã dela (Francisca) há muitos anos e é uma história que merece atenção. Foi um fato muito importante para o município”, explica o diretor.

O roteiro caminha em abordar a história de Francisca por duas vertentes, o aspecto religioso e o crime, que hoje seria tipificado como feminicídio — na época de sua morte ainda não havia esse termo. “Até hoje, assistimos crescer estes crimes contra a mulher. Então, ‘Uma Voz Chamada Francisca’, não é só a religiosidade, mas uma voz feminina em si”, explica Lamarck.

Trajetória

Para entender o filme, é necessário voltar no tempo e conhecer um pouco a história de Francisca. Sua morte brutal ocorreu na frente de seus irmãos e comoveu toda a comunidade, na época. Antes de proferir os golpes, Chico Belo sentenciou: “Se não vai casar comigo, também não se casará com ninguém!”, lembra sua irmã Maria Júlia Ferreira. Dias antes de matá-la, ele havia rompido o noivado e tentado reatar, mas a vítima e sua família não queriam mais o casamento.

Francisca e Chico Belo namoraram por 10 meses, antes de noivar. Júlia, dois anos mais velha, também ficou noiva na mesma época. Contudo, seu pai impediu que a filha mais nova se casasse, pois não tinha condições de fazer dois casamentos num ano só. Ao ouvir aquilo, o agricultor não quis manter o compromisso. “Se for para ser assim, me dê minha aliança”, esbravejou.

Chico se arrependeu, mas Francisca não queria reatar. “Ela tinha medo dele”, lembra Júlia. Oito meses após o noivado, ele continuava atormentando a família da ex-noiva. No dia do crime, as duas irmãs foram juntas à missa. Na volta, pegaram caminhos distintos. Mesmo com a estrada com muita gente voltando a pé da igreja, o agricultor não se intimidou e atacou a jovem ao lado dos irmãos caçulas, de 15 e 13 anos, que a acompanhavam. Cambaleando, ela ainda conseguiu chegar a um pé de pereiro, onde ainda sofreu mais três facadas e tombou morta.

Chico tentou fugir de Aurora, mas a Polícia o encontrou. Foi julgado e condenado a 24 anos de prisão, em Fortaleza, onde cumpriu 19 anos, e voltou a morar em Aurora. Pouco tempo depois, foi assassinado com seis tiros. Na época, o delegado descartou vingança, já que os familiares de Francisca, com exceção de Júlia, deixaram o município.

Para Lamarck, esse detalhe importante sobre a morte Chico Belo é um retrato de como era a família de Francisca. “Isso é uma coisa que queremos trazer para o público. Muitos perguntam: ‘Mas por que não vingou sua morte?’. Na época, isso era comum. A gente quer trazer justamente a serenidade da família até para evitar tragédias maiores, subsequentes”, destaca o diretor.

Devoção

No local onde Francisca morreu, seu pai ergueu uma pequena capela, antes de deixar o município. Ali, iniciou-se a devoção, onde velas são acesas e promessas pagas. Surgiram relatos de curas e outros milagres atribuídos à ‘Mártir Francisca’. Seu túmulo, no cemitério da cidade, também há visitas e flores são deixadas. No dia 9 de cada mês, há ainda uma celebração em sua memória. “A gente quer um filme que seja bem fiel à história dela, desde a adolescência até o final trágico e mostrar o hoje, a devoção. Captar imagens mostrando o atual”, reforça o diretor.

O longa-metragem, que já teve mais de 40% das cenas gravadas, é baseado em fatos a partir de pesquisa e entrevista com familiares. “Usamos, claro, licença poética para fazer as adaptações e ter um filme mais robusto”, pondera Lamarck. O elenco do filme conta com atores experientes, como Kassandra Brandão e Nivaldo Nascimento, e atores regionais, que passaram por processo seletivo. “Foi quase uma formação e, no processo, descobrimos muitos talentos locais”, comemora o diretor.

Um dos participantes do filme é o professor João Calixto, da Universidade Regional do Cariri (Urca). Nascido em Aurora, a história de Mártir Francisca sempre permeou sua infância. “É uma figura emblemática daqui. É uma santa popular, mesmo não tendo sido reconhecida pela Igreja. O povo a fez como santa, um meio de obtenção de milagre, graças”. “A gente tem expectativa que (o filme) faça sucesso não só aqui, mas no país, porque traz esse grito de socorro das mulheres contra a violência”, acrescenta.

Além de projetar uma repercussão nacional, Lamarck torce que o filme atraia as atenções à Aurora pelo catolicismo popular, já que a história de Francisca ainda é invisibilizada. “A gente espera fazer uma grande procissão e apresentar a comunidade. A gente sabe que o turismo religioso movimenta muito a economia da cidade e o filme pode contribuir”, finaliza.

Fonte: Opinião CE



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