Inicialmente seja definido o lençol freático como “lenço d’água”, uma forma de reservatório natural de água subterrânea que se acumula entre as rachaduras das rochas. Quando chove, uma parte da água permanece na superfície e a outra se infiltra no solo chegando ao lençol freático, que fica muito próximo da superfície e qualquer atitude pode afetá-lo, ou seja, a mesma chuva em contato com material contaminado ou resíduo perigoso pode penetrá-lo com facilidade.
No rol dos maiores contaminadores do lençol freático temos os lixões, as unidades hospitalares, os cemitérios, os restos químicos das indústrias que nem sempre são descartados de forma a não colocar sob risco a pureza do solo e subsolo, dentre outros fatores degradantes.
Os lixões contaminam o solo com fluidos (chorume proveniente do lixo) que, ao infiltrar-se no solo, alcançam maior profundidade contaminando o lençol freático com bactérias e resíduos contaminados diversos, inclusive com metais pesados.
No caso dos agrotóxicos e produtos químicos, quando não são devidamente descartados, podem causar danos profundos ao lençol, inclusive atingindo rios, mares e reservas de água.
De igual modo, a preocupação com o lixo hospitalar, potencialmente infectante, composto de agentes biológicos (sangue, sêmen, saliva, secreção vaginal etc.), fezes, urina e líquidos, sem descontaminação física ou química (Grupo A); substâncias químicas (Grupo B); rejeitos radioativos (Grupo C), resíduos comuns e objetos perfurocortantes, uma vez que não se sabe ao certo como isso tem sido feito em vários locais onde o lixo não é coletado adequadamente e processados os materiais.
Quanto aos cemitérios, a contaminação se dá por meio da decomposição dos corpos, que fornecem ao solo diversos contaminantes, como coliformes fecais, bactérias e metais, inclusive chumbo e alumínio.
Lixão da Chapadinha e Cemitérios de Iguatu/CE
Nossa cidade conta com a tristeza de se ter em crescente acúmulo de resíduos sólidos, a nossa decadência ambiental maior, o Lixão da Chapadinha, que remonta décadas de existência e que possivelmente já tenha comprometido o nosso lençol freático, destacando que não existe nenhuma manifestação em favor da preservação ambiental por parte de alguma entidade ou autoridade preocupada em mensurar essa presumida contaminação.
Por conseguinte, temos as lagoas que entornam áreas próximas ao Hospital Regional e cemitérios, sem que a população tenha noção/ conhecimento dos riscos de saúde aos quais se expõe no decorrer de tantos anos sem que ninguém erga a bandeira dessa conscientização necessária e da defesa ambiental.
Até hoje, lamentavelmente, em nenhuma gestão municipal temos registro de que algum político se impôs no sentido de propagar esse assunto com efetividade e gerar campanhas robustas para minimizar os prejuízos que contabilizamos no nosso tão vulnerabilizado lençol freático. São décadas sem estudo do solo, sem profissionais direcionados no sentido de resgatar ou preservar o que ainda não está contaminado. Até quando?
Maria Lopes de Araújo.
Servidora Pública Federal aposentada- IFCE. Escritora (cronista, contista e poetisa). Licenciada em Letras pela UECE. Bacharel em Direito pela URCA. Advogada atuante e cidadã comprometida com a causa ambiental, com ênfase na preservação integral da caatinga.
