Em 1824, o espírito de liberdade se fortaleceu nos sertões nordestinos contra a opressão monárquica do imperador dom Pedro I. Esse movimento revolucionário foi chamado de Confederação do Equador. 200 anos depois, os ideais de independência e justiça das províncias, agora estados da Região Nordeste, são relembrados com uma diversa programação. Nesta quinta-feira (27), o Governo do Ceará realizou, no Palácio da Abolição, solenidade em alusão ao Bicentenário da Confederação, com presenças de autoridades e estudantes.
O evento abriu a programação comemorativa com a entrega da medalha padre Mororó a personalidades e a realização da aula magna ministrada pelo professor e escritor Filomeno Moraes, da Universidade Estadual do Ceará (Uece). A programação inicia neste mês de junho e se estende até 2025.
A comemoração é realizada em parceria pelo Governo do Ceará, por meio da Casa Civil e da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult), Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), Sindicato dos Fazendários do Ceará (Sintaf) e Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará (Instituto do Ceará).
Representando o governador Elmano de Freitas, o assessor especial de Assuntos Municipais, Artur Bruno, reafirma que o Estado do Ceará tem compromisso com a valorização da história. “Uma sociedade que no presente não valoriza a sua história não terá futuro. Nós temos que saber quem somos, qual é a nossa identidade, por qual motivo chegamos aonde chegamos, evoluímos e temos que continuar evoluindo em todos os aspectos. É isso que nós fazemos”, afirma.
Titular da Secult, Gecíola Fonseca destaca que o movimento nordestino foi um marco de resistência e luta por liberdade para a construção do Brasil. “Nossa terra sempre foi fértil para a produção cultural e intelectual, e também para o fornecimento de ideias e movimentos que visam o bem comum. Este momento simboliza a contribuição [do Ceará] para a preservação dos ideais de justiça, democracia e liberdade que guiaram os que lutaram na Confederação do Equador, dentre eles, padre Mororó e Bárbara de Alencar”, citou.
Colegas e estudantes do Colégio Militar do Corpo de Bombeiros, Giovanna Isa Teixeira, de 15 anos, e Sarah Nascimento, 14, estiveram presentes na aula magna e falaram sobre o orgulho de ser cearense. “É necessário dar essa visibilidade à participação do Ceará. É incrível a história do nosso protagonismo nesse contexto”, diz Sarah. “É fundamental desenvolver nas pessoas o conhecimento histórico e a cultura. Assim, as pessoas vão ter uma noção do que é importante para o desenvolvimento da Nação e das pessoas como cidadãos, como uma sociedade em conjunto”, reforça Giovanna, que foi finalista da Olimpíada Nacional em História do Brasil em 2023.
O Ceará, ainda província, foi um dos protagonistas no movimento revolucionário que iniciou em Pernambuco, e depois se estendeu também para o Rio Grande do Norte e a Paraíba. Anos antes da Confederação, o Ceará também participou da Revolução de 1817, que foi denominada de Pernambucana, e nas lutas pela Independência do Brasil (1822).
No Ceará, a Confederação teve como um dos seus principais mentores o padre católico e jornalista cearense Gonçalo Inácio de Loyola Albuquerque e Mello, o padre Mororó – uma referência à resiliente árvore da caatinga. Nascido em uma localidade onde hoje é a cidade de Groaíras, no sertão de Sobral, ele estudou no Seminário de Olinda, em Pernambuco, sendo contemporâneo e colega do frei Caneca, do padre João Ribeiro e do padre Miguelinho.
Seis meses antes da eclosão da Confederação, padre Mororó provocou a Câmara dos Vereadores de Quixeramobim a destituir o Imperador e a proclamar a República. Padre Mororó também lançou, em 1º de abril de 1824, o Diário do Governo do Ceará, o primeiro jornal da província, do qual foi o redator e que viria a ser o órgão oficial da jovem república. Com o declínio da Confederação, foi preso e executado em Fortaleza, no antigo Campo da Pólvora, hoje denominado de Passeio Público.
Um dos homenageados com a medalha padre Mororó, o ex-governador Lúcio Alcântara defende que “não há futuro sem memória”. Ele completa: “O Nordestino, pela sua altivez, tem prestado um enorme serviço à pátria. O Nordeste tem que se orgulhar disso, tem que lembrar disso, tem que festejar isso. A nossa participação na história do Brasil, antiga e recente, é valiosa, é substantiva e nós temos que ter orgulho disso porque foi a custo de heróis, conhecidos e anônimos, que ajudaram a fazer a grandeza do Brasil”, ressaltou.
Outra homenageada, a diretora do Museu do Ceará, Raquel Caminha, fala sobre a emoção de ser agraciada. “Receber essa medalha, para o Museu do Ceará e a Secretaria da Cultura, além de uma honra, é um reconhecimento a todas as mulheres que ajudam a construir o nosso estado de uma forma mais justa, mais igualitária e mais humana. Nós vamos ter uma programação diversa junto ao Arquivo Público, incluindo exposições, rodas de conversas, palestras, conferências e repreensões de livros que relembram esse fato histórico”, detalha.
O presidente do Instituto do Ceará, general Júlio Lima Verde, destaca outras personalidades históricas. “Relembro também que nós tivemos as figuras de Tristão Gonçalves, Alencar Araripe, Pessoa Anta e Carapinima, que imolaram-se no altar da pátria sendo fuzilados, e outro que sucumbiu no Rio Jaguaribe, como foi o caso de Tristão Gonçalves. E dona Bárbara de Alencar sacrificou-se, porque praticamente entregou um filho, o Tristão Gonçalves. E o Martiniano, também filho de Bárbara de Alencar, também foi uma grande figura e, felizmente, não foi fuzilado, tornando-se presidente [da província do Ceará]”, conta.
A Confederação, segundo o presidente do Sintaf, Carlos Brasil, “é emblemática, do ponto de vista dos servidores públicos e dos trabalhadores, como um exemplo de um bom combate por ideais”, acredita.