Camilo Santana, nascido em Barbalha, no Cariri, Ministro da Educação e ex-governador do Ceará, é um dos quatro homenageados com o Troféu Sereia de Ouro 2023, que também tem entre os agraciados a professora Regina Barbosa; o cantor e compositor Ednardo; e o empresário José Roberto Nogueira.
O Troféu Sereia de Ouro foi criado pelo industrial Edson Queiroz para homenagear personalidades que contribuem para o desenvolvimento e projeção do Ceará.
A TV Verdes Mares exibe uma série de reportagens sobre os homenageados com o Troféu Sereia de Ouro, que em 2023 chega a quinquagésima primeira edição.
A política já estava no sangue de Camilo Santana. O pai, Eudoro Santana, conta sobre como o assunto era tratado em família. "Nós sempre vivemos a política em casa. O Camilo nasceu na época da ditadura, então esse processo foi discutido. Eu fui preso a segunda vez, estava para levá-los pra escola. Isso ficou na cabeça de todos eles.
Então, nesse processo, ele vai construindo, e o Camilo, no meu entender, tinha essa vocação nata. Ele foi para a frente".
"Me lembro muito bem do dia que o papai saiu de casa porque foi praticamente convidado ou convocado para fazer um depoimento, acabou sendo levado para Pernambuco e passou mais de 30 dias preso, foi torturado e isso mexeu muito com a gente", relembra Camilo.
A vocação para a política se manifestou ainda na infância, no apoio às campanhas do pai, que foi quatro vezes deputado estadual.
"Sempre aprendi desde pequeno que não há outro caminho para melhorar a vida das pessoas, a não ser através da política. É a política que define a qualidade da saúde, da educação, o valor do salário mínimo, do transporte, da segurança. São decisões políticas", declara o ministro.
Camilo disputou a prefeitura de Barbalha duas vezes no início dos anos 2000. Na mesma época, passou num concurso público para analista ambiental. Foi professor e chegou à superintendência do Ibama.
Em 2010 foi eleito deputado estadual mais votado no Ceará. Depois, foi nomeado secretário das cidades no governo Cid Gomes e ocupou o cargo até ser escolhido para disputar o governo do estado.
Como deputado e líder do partido na Assembleia, o atual governador, Elmano de Freitas, discutiu muitos projetos nas duas gestões de Camilo à frente do estado.
"Acho que a grande característica que fui vendo em Camilo é a característica de ter muita humildade, muita capacidade de diálogo, mas também muito bom senso para decidir", diz.
Vários momentos testaram essa capacidade de decisão, como enumera Camilo:
“Quando se iniciou aquele processo de fazer valer a lei, o rigor da lei dentro dos presídios, claro que respeitando as pessoas, os direitos humanos, chegou a tentativa de bombas em viaduto, torre de energia, derrubada de telefonia. Enfim, foi um momento muito tenso. Ali eu vivi um dos momentos mais tensos da minha gestão.
Logo no início do segundo ano foi o motim. Chegou o momento de você imaginar um policial, que ele tá sendo pago pelo poder público para defender o cidadão, para defender a população, encapuzado, ameaçando comerciante, furando pneu de viatura que é patrimônio público, ameaçando as pessoas. Não podemos aceitar isso.
E logo em seguida veio a pandemia, que para mim foi um momento mais do que desafiador, porque nós estamos falando de vidas, uma coisa desconhecida que o mundo inteiro estava enfrentando. A gente vê pessoas morrendo nos hospitais por falta de assistência, por falta de leito, ter que fechar comércio, fechar atividades econômicas, a preocupação com o emprego, a renda das pessoas”, relata.
O então governador recorreu mais do que nunca às lives que já fazia semanalmente para prestar contas à população.
"Ele disse: ‘eu quero dividir tudo o que eu fiz na pandemia com as pessoas. Elas estão precisando de alguém que converse com elas, que preste contas. Muitas vezes nem é para anunciar uma medida, mas é para dizer: "olha, eu estou aqui, eu estou aqui, eu estou. Eu não consegui ainda montar essas UTIs aqui, mas eu estou tentando’. E virou uma referência, inclusive para imprensa, porque ele sempre anunciava alguma coisa, Ele sempre rebatia alguma coisa, se posicionava", conta o ex-assessor Chagas Vieira.
G1 CE
Mesmo ao chegar a um consenso, o diálogo com as outras instâncias políticas persistia, como conta o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão: "Antes de enviar qualquer projeto aqui para a Assembleia, ele sempre, nós sempre construíamos, juntamente com a setorial da pauta da matéria, e a gente conseguia construir uma mensagem consensual. Foi assim que nós conseguimos chegar a um patamar tão alto em diversos setores, como a educação".
Os caminhos de Camilo Santana na política naturalmente o levaram para Brasília. No segundo mandato do governo do Ceará, ele decidiu se candidatar a uma vaga no senado. Em outubro, foi eleito com quase 70% dos votos válidos. Mas dois meses depois, um convite do presidente Lula alterou o rumo político sem desviar no destino, que é a capital federal. Em vez do senado, ele recebeu uma missão na Esplanada dos Ministérios: cuidar da educação do país.
"Eu também não imaginava o presidente me convidar. Eu já tinha planejado fazer um bom mandato de senador da República. Para mim, é uma das missões mais desafiadoras da minha vida, porque nós estamos falando agora do que eu considero uma das partes mais importante da nação, que é a educação", diz o ministro.
A rotina de correria e responsabilidade em Brasília tornou mais frequente a distância da família.
"Lembro um episódio quando eu virei governador, no primeiro ano, eu acho que o Pedro tinha cinco anos, seis anos, e eu viajava muito. E foi o primeiro ano que ainda a Dilma era presidente. Eu ía muito a Brasília e o Pedro veio me perguntar por que é que eu viajava tanto. Eu sentei com ele e disse: olha, eu viajo porque papai tem que buscar recursos, dinheiro lá em Brasília para construir escola, para melhorar a vida das pessoas mais pobres. Aí ele saiu do meu quarto e voltou com um cofrinho que ele tinha. Aí veio: ‘olha papai’, e como se fosse dizer assim: ‘Olha, eu vim trazer o dinheiro pra você não precisa viajar’, lembra.
Os momentos de lazer e descanso no Ceará são com os pais e os três filhos: Pedro, de 13 anos, Luiza, de 11, e José, de um ano, frutos do casamento com Onélia Santana.
"Eu fui dar uma palestra na Universidade Regional do Cariri, na minha região, e a Onélia estava no evento e acabei me engraçando com ela. E para mim ela tem sido uma coisa maravilhosa na minha vida, por ela e pelos filhos que ela me proporcionou e pelas pessoas sempre presentes na minha vida", conta Camilo.
Algumas estratégias reforçam a presença, mesmo quando a rotina impede este encontro, como conta a filha Luiza.
"Toda vez ele chegava à noite cansado do trabalho, sempre dava um beijinho na gente e abraçava a gente, mesmo a gente dormindo. Mesmo ele muito cansado, ele fazia isso com a gente e tinha um negócio que só a gente tinha, que é um nó no lençol.
Quando ele chegava, pra dizer que ele chegou, dava um beijo na gente, um abraço. Ele dava um nó no lençol e todo dia de manhã a gente ficava procurando as pontas do lençol pra ver se ele deu".
Reconhecimentos como a Sereia de Ouro dão a Camilo a Certeza de que os desafios e superações da vida pública foram a escolha certa para um sucesso inevitável.
"Me emocionei no momento que eu recebi a notícia. Passa o filme na nossa cabeça, toda a nossa trajetória. Porque eu sempre digo que quem entra na vida pública com o objetivo de cumprir o verdadeiro papel da política, que é servir as pessoas, ajudar a construir um país melhor, ajudar a construir um Estado melhor. São desafios enormes.
Então, eu estou muito feliz e agradeço muito a essa honraria. Para mim vai ficar no meu coração, na história da minha família, dos meus filhos. Eu quero dizer, eu estou muito orgulhoso, muito honrado, muito grato pela homenagem que recebo da Sereia de Ouro", conclui.