No mundo todo, cerca de 55 milhões de pessoas vivem com algum tipo de demência, sendo a doença de Alzheimer a mais comum, atingindo sete entre dez indivíduos nessa situação. Os dados são da Organização Mundial da Saúde (OMS) que alerta para uma tendência de aumento preocupante nos números com o envelhecimento da população. O Brasil não foge à regra, e as estimativas atuais apontam quase 2 milhões de cidadãos com a condição em seus diferentes estágios.
Para auxiliar a compreensão sobre o tema, e levando em conta que 21 de setembro é o Dia Nacional de Conscientização da Pessoa com Alzheimer, o Dr. Silvio Pessanha Neto - neurologista/neurofisiologista e diretor executivo nacional do Instituto de Educação Médica (Idomed) - informa que a doença de Alzheimer é uma condição neurológica caracterizada por um processo neurodegenerativo onde neurônios responsáveis por importantes funções, principalmente as relacionadas à linguagem, memória, raciocínio e pensamento abstrato começam a morrer.
“Isso ocorre em algumas pessoas geneticamente predispostas ou determinadas, porque durante a produção de certas proteínas, resíduos decorrentes deste processo começam a acumular-se dentro e ao redor dos neurônios e instabilizá-los, levando-os progressivamente à falência. Esse processo é lento e só começa a gerar sintomas quando o número de neurônios, que perderam suas funções, é suficiente para que a deficiência se manifeste. Por esse motivo, a doença de Alzheimer, que é uma das demências mais comuns, é silenciosa, tem sua prevalência aumentada com a idade e é a principal causa de morbidade e mortalidade em idosos”, explica o médico.
Dr. Silvio Pessanha explica, ainda, sobre o processo de adoecimento. “Temos bilhões de neurônios no cérebro e ele trabalha para garantir as funções da nossa existência. Quando eles começam a morrer, este processo compromete um percentual significativo de células, surgem os primeiros sintomas, que são logo percebidos pela família como: repetição da mesma pergunta várias vezes, falta de memória para acontecimentos recentes e cotidianos, dificuldade para acompanhar conversas ou discussões mais complexas, incapacidade de elaborar estratégias para resolução de problemas, dificuldade para dirigir ou encontrar caminhos conhecidos e dificuldade para encontrar palavras que expressem ideias ou sentimentos pessoais, gerando irritabilidade e desconfiança”, comenta Dr. Silvio Pessanha Neto.
Diagnóstico
Para a adequada realização do diagnóstico, o neurologista orienta que “ao surgimento de qualquer um dos sintomas descritos anteriormente, o paciente precisa procurar um neurologista para a realização de um exame físico neurológico minucioso, descartar outras causas e solicitar exames complementares. O diagnóstico é clínico, baseado na forma progressiva com que os sintomas se instalaram, na idade e ausência de outros achados, mas costuma-se solicitar alguns exames complementares, para melhor investigação do quadro, como exames de sangue, eventual avaliação do líquor e exames de imagens, em especial a tomografia ou, preferencialmente, a ressonância magnética”, diz o Dr. Silvio Pessanha.
Como se trata de uma condição que não tem cura ou uma forma clara de prevenção, além de manter o cérebro estimulado todos os dias, utilizando jogos de estratégias, como quebra-cabeças, palavras-cruzadas ou tocar um instrumento musical, por exemplo, é muito importante observar e estabelecer alguns cuidados para garantir que os pacientes tenham uma melhor qualidade de vida por mais tempo. “O grande objetivo é retardar o processo degenerativo dos neurônios começando a tratar desde quando os sintomas surgirem e o diagnóstico for realizado. Portanto, os medicamentos visam aumentar a vitalidade destes neurônios, mantendo os níveis de acetilcolina, neurotransmissor que é o “combustível” desses neurônios, em altos níveis”, orienta o neurologista.
Tratamento
Tratamentos mais recentes e em estudo se propõem a também atuarem na gênese da doença reduzindo os depósitos das proteínas causadoras da doença no cérebro, em especial a amiloide. Além disso, se faz necessário um acompanhamento multidisciplinar, quando possível, com equipe formada por neurologista e psiquiatra, considerando que a doença é acompanhada por quadros depressivos e alteração comportamental em fases mais avançadas. O acompanhamento de fisioterapeutas e nutricionistas também é fundamental, associando uma alimentação equilibrada e rica em ômega 3, vitamina C e E, que têm ação antioxidante.
Por fim, o mais potente tratamento é a compressão da família e amigos, garantindo um acompanhamento focado na paciência, amor, gentileza e respeito necessários para se adaptar ao declínio cognitivo que se impõe. Afinal, a falta de memória, neste caso, não é proposital ou causada por desatenção e sim uma condição clínica inexorável e merecedora de atenção e cuidado como qualquer outra.
Por: Camila Vasconcelos Jornalista